sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

mas nem era

E porque me parecia amor eu comecei a crer que fosse.
Desejei que fosse.
Me convenci de que seria.
Mas não, não era amor.
Era uma gargalhada boba que reforçava uma piada sem graça.
Era um telefone que tocava e disparava os desejos.
Uma vontade louca de dividir um sanduiche de pão com qualquer coisa no meio da madrugada.
Num era amor.
Era uma adoração infinita do calor da pele do outro.
Do cheiro da pele do outro.
Era aquela velha correria pra sair depressa do trabalho e do mundo e ouvir as mesmas músicas juntos.
E contar as histórias de sempre já há muito decoradas, mas que pareciam curiosamente inéditas.
Era um sentir-se único e inabalável.
Não, não era amor.
Era uma pressa de fazer tudo certo na vida.
Uma pressa de executar todos os planos escondidos no travesseiro.
E acreditar que todas as más escolhas são perdoáveis.
Que todos os caminhos levam aquela idéia de felicidade merecida.
Era uma certeza de que até mesmo a presença calada bastaria para alegrar um dia triste.
Mas não era. Num era amor.
Era apenas um bem estar comigo mesma.
Uma saudade dum pedaço meu que se perdeu pela estrada.
E que sem ele, ainda me sinto quase nada.