domingo, 4 de agosto de 2013

quando a solidão não era castigo


Eu poderia dizer que o mundo anda mais endurecido, que as pessoas andam mais egoístas, que as escolhas estão mais difíceis.

Eu poderia culpar a correria dos tempos, o estresse de todo mundo, o estúpido mercado que me obriga a consumir até meu próprio corpo, a política, a polícia, o silêncio, a mãe, o pai, o Freud.

Eu poderia apontar um conjunto de fatos, um punhado de histórias, um combo de variáveis de desencontro.

Mas nada disso tiraria da boca esse gosto de remédio amargo, de chá forte feito pela tia bem intencionada que te arranca a alma junto com toda podridão do corpo e bota fora com o ácido que sobe estomago acima quando se engole.

Nada disso tiraria o cheiro de empoeirado dos sonhos e planos abandonados debaixo do tapete porque não se pensou que se precisaria de ilusões para viver.

Nada disso removeria a fraqueza da carne que se esgueira por entre as alegrias dos outros com suas vidas que correm perfeitamente bem e com seus problemas que desaparecem como que por encanto.

Eu gostaria apenas da vista dos tempos das calmarias, dos dias de paz em que eu andava pelas ruas e não me lembrava do mundo, quando meu silêncio era abrigo, minhas ideias minhas companheiras e a solidão não era castigo.