O amor
morreu numa tarde de terça-feira.
Sem grandes
alardes, sem sirenes tocando, sem estardalhaços ou gritos desesperados que o
mundo costuma esperar quando se morre alguém tão querido.
Era um dia
como outro qualquer, desses com gente correndo, hora passando, horário atrasando.
Nesses dias
em que a gente acorda cedo e vai seguindo o itinerário.
Segue, anda,
para, respira, sorri, se cansa, come, corre, volta e vai.
No dia que o
amor morreu, a manhã amanheceu chuvosa e fresca.
Não era
feriado nacional, não acontecia nada de extraordinário no mundo.
O amor
morreu sem agonizar de doença grave, sem sentir dores profundas, sem sangrar,
sem proferir gritos ou gemidos.
O amor não
deu suspiros de adeus, não lamentou o não vivido, não agradeceu aos céus ou
pediu perdão.
O amor não pediu
uma última chance, não suplicou misericórdia em recompensa dos seus bons atos, não
se sentiu merecedor de oportunidades de recomeço.
Não, o amor
não se matou de descrença.
Nem morreu
de tédio.
Não mataram
o amor a pancadas.
O amor não
foi assassinado pela dureza do mundo, nem das gentes.
O amor
morreu de morte morrida.
Morreu após percorrer
seu caminho, escrever sua história, causar alguns sobressaltos, outros tantos
sorrisos.
O amor
morreu de alívio, depois de sentir seu papel cumprido.
E ainda dizem
por aí que continuou vivo, no gosto do abraço do encontro, no cheiro do toque
da pele, nas lembranças dos dias simples – naquele espaço e tempo em que
pareceu ser eterno.