terça-feira, 20 de setembro de 2011

na masmorra de si



Como cobrar sonhos de quem vive num mundo real em demasia? 
Num mundo real tão íntimo e repleto de certos e errados, possíveis e impossíveis assim deveras rigorosos...
Ela nunca aprendeu a fantasiar sem se sentir boba.
Ela nunca se deu o direito de dar a vida cores mais vívidas – essas que se confundem com a idéia de alegria.
Ela sequer sabe se é triste ainda que tenha um semblante por vezes um tanto acinzentado – desses que as gentes acham mais melancólico que o necessário.
Na verdade, ela esta encarcerada desde sempre.
Ela veio aprisionada para essa vida – aprisionada em si mesma e suas regras.
Presa numa formataçãozinha tão completa que ela se enxerga diferente de todos.
E não tendo sabido bem como é viver, sempre fora expectadora exemplar dum mundo cheio de possibilidades enquanto vivia num universo próprio das mediocridades cotidianas.
E sofre. E chora. E ao mesmo tempo ri e crê - paradoxalmente.
Crê que um dia ela há de ser livre e sonhar sem culpa e sem medo. Sem precisar de tantas certezas pelos arredores para se sentir viva.
E nesse dia andará sozinha e em paz.

meros adereços



Se tem insônia -  finge que dorme.
Se tem preguiça - esboça um olhar atento.
Se deseja mais a noite que o dia – se esconde atrás de óculos escuros.
Se atrasa os prazos – arranja belas desculpas.
Se não tem como ser verdadeiro – escolhe mentiras doces.
E segue em frente, esgotando-se e renovando-se diariamente.
Se vestindo e se despindo das camuflagens sociais necessárias.
Mas ainda assim se frustra.
Numa infinidade de máscaras, ainda não inventaram uma que encubra bem o desencanto.

sábado, 17 de setembro de 2011

ainda que sozinha



Os olhos delas são vermelhidão e tinta preta.
No meio da noite, chega a conclusão de que andar sozinha é menos dolorido do que ser interpretada.
Ela não suporta mais a sensação de ser despida de suas emoções e idéias pelas tentativas frustradas de decodificação dos seus lamentos.
Ela só quer ter o direito de estar triste e chorar.
Ela só precisa se sentir amparada e não de juízes para definir o certo, o errado, o norte ou a falta dele nos seus devaneios e sofrimentos.
Ela procura um abraço quente. Um sorriso acolhedor e palavras doces que lhe aconcheguem o pranto. Mesmo que esse pranto não tenha nome ou sequer possa ser racionalmente compreendido.
Ela precisa de sossego e calma. 
Ela precisa deixar que suas lágrimas caiam sem ter que acolher os que se ofendem com elas.
Ela não quer mudar o mundo nem ninguém. 
Ela só quer aprender a não sofrer pelo que não pode mudar. 
E seguir a vida.
Ainda que sozinha.