Creio que é preciso um
pouco de morte diária para que se consiga viver.
Matar uma crença, um vício,
uma ideia.
Matar um pouco da menina
que não quer crescer, matar um tanto da mulher feita.
Matar os sonhos de amor,
matar os planos certos bem traçados na vida.
É preciso um pouco de
morte.
Matar um velho hábito e
uma nova uma mania.
Matar antigos gostos,
matar pensamentos amados.
Matar cortes de cabelos,
roupas e cores que caem bem, portos seguros que são tidos como certos,
companhias que julgamos não viver sem e desejos que nos atormentam e ao mesmo tempo
nos alimentam a alma.
A vida é coisa que nasce
na morte de um papel desempenhado e no recomeço de outro talvez temido.
Apenas morrendo, talvez nos deixemos realmente viver.