quinta-feira, 3 de novembro de 2011

do que a gente precisa



E porque viver nem sempre é fácil a gente bota uma máscara de sorriso largo na face e sai por ai de salto alto e cabelo ao vento fingindo ser maior que todo o mundo e todo problema que pareça ser capaz de nos tirar a pose.
E porque fingir nem sempre é simples a gente vai criando personagens novos pra ver se agradam mais ao público e quase acredita ser uma espécie de super homem pós moderno, sem capa ou roupa de malha e com o notebook no colo e mil telefones tocando em volta.
E porque a gente acredita que pode tudo, esquece que precisa tanto do outro prá ser gente e sai por aí procurando um outro igualzinho a gente e acaba se frustrando tanto ao deparar com tantos defeitos próprios refletindo no outro, que por não ser perfeito não nos serve.
E por não acreditar que haja alguém para caminhar ao lado, a gente aprende que ser sozinho é mais simples e fácil, que família só toma tempo e gera responsabilidade, que amigos bons são aqueles que concordam com todas nossas verdades absolutas e que um amor de verdade tem que ser carinhoso, compreensivo e disponível em tempo integral.
E por andar demais sozinho a gente se desumaniza, se transforma numa máquina ambulante de exigências descabidas, de expectativas pouco realistas e de vida com pouca graça ou graça nenhuma.
E a gente acaba esquecendo que a vida precisa de graça e de um tanto de sonho e de realidade.  
E que gente precisa de gente perto, especialmente aquelas que a gente ama com todos os defeitos que tem e que nem sempre são assim tão insuportáveis e maiores que os nossos. E as responsabilidades que passamos a ter com cada um deles pode também ser doçura e nos ajudar a enxergar quem somos e o quão bons podemos ser.
A gente precisa é ser honesto com o mundo, sendo honesto com a gente mesmo. Deixar a armadura e as máscaras em casa e sair mais vezes de cara limpa cheia de olheiras e marcas dos dias que se foram.
E tentar ser feliz, porque sendo feliz a vida pode ser simples. 
E é disso que gente precisa.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

na masmorra de si



Como cobrar sonhos de quem vive num mundo real em demasia? 
Num mundo real tão íntimo e repleto de certos e errados, possíveis e impossíveis assim deveras rigorosos...
Ela nunca aprendeu a fantasiar sem se sentir boba.
Ela nunca se deu o direito de dar a vida cores mais vívidas – essas que se confundem com a idéia de alegria.
Ela sequer sabe se é triste ainda que tenha um semblante por vezes um tanto acinzentado – desses que as gentes acham mais melancólico que o necessário.
Na verdade, ela esta encarcerada desde sempre.
Ela veio aprisionada para essa vida – aprisionada em si mesma e suas regras.
Presa numa formataçãozinha tão completa que ela se enxerga diferente de todos.
E não tendo sabido bem como é viver, sempre fora expectadora exemplar dum mundo cheio de possibilidades enquanto vivia num universo próprio das mediocridades cotidianas.
E sofre. E chora. E ao mesmo tempo ri e crê - paradoxalmente.
Crê que um dia ela há de ser livre e sonhar sem culpa e sem medo. Sem precisar de tantas certezas pelos arredores para se sentir viva.
E nesse dia andará sozinha e em paz.

meros adereços



Se tem insônia -  finge que dorme.
Se tem preguiça - esboça um olhar atento.
Se deseja mais a noite que o dia – se esconde atrás de óculos escuros.
Se atrasa os prazos – arranja belas desculpas.
Se não tem como ser verdadeiro – escolhe mentiras doces.
E segue em frente, esgotando-se e renovando-se diariamente.
Se vestindo e se despindo das camuflagens sociais necessárias.
Mas ainda assim se frustra.
Numa infinidade de máscaras, ainda não inventaram uma que encubra bem o desencanto.

sábado, 17 de setembro de 2011

ainda que sozinha



Os olhos delas são vermelhidão e tinta preta.
No meio da noite, chega a conclusão de que andar sozinha é menos dolorido do que ser interpretada.
Ela não suporta mais a sensação de ser despida de suas emoções e idéias pelas tentativas frustradas de decodificação dos seus lamentos.
Ela só quer ter o direito de estar triste e chorar.
Ela só precisa se sentir amparada e não de juízes para definir o certo, o errado, o norte ou a falta dele nos seus devaneios e sofrimentos.
Ela procura um abraço quente. Um sorriso acolhedor e palavras doces que lhe aconcheguem o pranto. Mesmo que esse pranto não tenha nome ou sequer possa ser racionalmente compreendido.
Ela precisa de sossego e calma. 
Ela precisa deixar que suas lágrimas caiam sem ter que acolher os que se ofendem com elas.
Ela não quer mudar o mundo nem ninguém. 
Ela só quer aprender a não sofrer pelo que não pode mudar. 
E seguir a vida.
Ainda que sozinha.

terça-feira, 14 de junho de 2011

não me deixe solta


Gosto de regras.
Compromissos.
Obrigatoriedades.
Limites.
Espaços definidos.
Posso parecer quadrada.
Rígida.
Insuportável.
Triste.
Quem sabe prá muitos eu seja.
Mas sou feliz na minha aparente prisão de certezas.
Minha liberdade encontro nas coisas fixas.
A pior prisão para minha alma é o não pertencimento a nada.
Posso voar em pensamentos e sonhos.
Mas minha trajetória é na terra.
Valorizo meus pés no chão.
Gosto de saber onde piso.
Preciso de rota.
Gosto de bússola, mapa e guia.
Não me peça pra andar ao sabor do vento
Isso prá mim teria um gosto amargo
E preciso muito da doçura.



domingo, 1 de maio de 2011

vacivus



Hoje o mundo é silêncio.
É escuridão.
É vazio.
É melancolia.
Hoje o mundo perdeu as cores.
As texturas.
Os cheiros.
As vontades.
Hoje o mundo tem um brilho distante.
Fraco.
Gasto.
Frágil.
E prá mim, só me restaram os olhos turvos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

aquela menininha de sempre



E por desconhecer da verdade do mundo e das coisas
Hoje procuro nas ciências e no esoterismo a resposta pra sua visita
Essa sua aparição no meio da calmaria das idéias soltas
Perdida numa tarde vulgar
Em meio a restos de pensamentos e desejos calados da alma
Te ouço as palavras ditas ao coração
Tantas coisas  estranhas aos olhos, tão simples
Que me diz com a naturalidade do encontro dos que se amam
E que nem sempre dizem, fingindo ignorar o amor retraído e mudo
E por não saber se creio nas artimanhas do inconsciente,
Nas faculdades do espírito ou nas vicissitudes do acaso
Vim lhe dizer dos meus afetos que mantive comigo
E que frente a sua face preservada pelo meu mundo
Percebi não querer mais deixar como morto
Digo que os afetos existem 
E são ainda tão fortes como no tempo dos sorrisos
E que as lembranças são tão doces 
Como tardes de brincadeira de infância
Digo que sua presença sempre terá lugar aqui dentro
E que os ânimos exasperados foram apenas uma página 
De tantas da nossa história
Que também teve amor incondicional disfarçado
Cara feia escondendo vontade de abraço
E distância com desejo de colo
Vim dizer que não tenho mais aquela impulsividade tola da meninice 
E nem o pranto
Sou mulher agora, ácida 
E ainda carrego comigo muitas lágrimas - de alegria e de dor
Vim lembrar você que nosso encontro, nesse mundo 
Já é desencontro, agora.
Me despeço.
Quem sabe, com sorte, muitos dos crêem tenham razão
E nos encontraremos nas outras tantas vidas 
(que talvez nos estejam reservadas)
E você me reconhecerá facilmente
Serei aquela menininha de sempre
Que te aparecerá no caminho com os braços abertos.

domingo, 10 de abril de 2011

porque o domingo amanheceu



E porque o domingo amanheceu de lábios escancarados
Acordei numa preguiça grande.
Preguiça dessa gente faladeira, desassossegada.
Dessa gente animada, que nem sente lesera de manhã.
Desses, que nem sabem ficar enroscados em cima da cama.
E porque o domingo amanheceu azul demais
Me assustei em não ter saudade do cinza
E ter assim tanta saudade sua.
Do seu cheiro, da sua pele
E dessa sua facilidade de reclamar do mundo inteiro.

quarta-feira, 30 de março de 2011

talvez

Talvez o que me estrague seja a pressa.
A conhecida pressa de decidir a vida numa tarde.
De escrever um romance inteiro numa página.
De voltar à velha forma num fim de semana de jejum.
Talvez o que me afogue seja o tempo.
Que me confunde o dia com meses.
Que me atropela os desejos no fim do dia.
Que me paralisa ao perceber as suas horas.
Talvez o que me tortura sejam as certezas.
Disfarçadas de talvez.
Camufladas por sorrisos.
Trancadas aqui dentro.

domingo, 13 de março de 2011

porque os sonhos pesam

Ahh! Não adianta.
Não adianta declarar guerras contra a natureza.
(não contra a sua própria).
Cansei da trincheira e das balas.
De mim, nunca consegui ganhar mesmo.
Mas há sempre retiradas estratégicas.
Vou aproveitar que amanhã é segunda.
Vou começar uma dieta.
Rica em silêncio e frutas da estação.
E pobre em calorias, distrações e afetos.
Vou trabalhar a musculatura do corpo.
E quem sabe a forma da alma?
Porque as idéias, meus caros, são complicadas.
Os afetos, traiçoeiros.
E os sonhos, por vezes perdem a sutileza.
Perdem a graça.
E pesam.

terça-feira, 8 de março de 2011

ouvindo Chico


Por favor, me tirem da noite.
Do riso e do canto estridentes.
Por favor, me tirem do meio da casa.
E levem embora as gargalhadas frenéticas.
Os rostos e os olhos do meu pensamento.
Eu quero hoje é barulho de chuva.
Abraço apertado.
Risada meio contida.
Eu quero hoje é sessão de cinema.
Comida fresca na mesa.
Cheiro de café no meio da tarde corrida.
Eu quero hoje é brincar de inverno.
Com manta, meia, chapéu e carinho.
Fechar os olhos e sentir o beijo frio do vento na pele.
Eu quero mesmo é brincar de matar a tristeza.
Sem choro, careta ou rabugice.
Eu??? ahh o que eu quero...
Eu quero mesmo é estar de pernas pro ar.
Ouvindo Chico.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

...

Quero um pouco de ar e um tanto de abraço.
Prá entender esses dias eternos
Cheios de horas e nebulosidades
De sonhos quebrados, desejos ruídos
E verdades agudas.
Quero o silêncio e a calma.
Quero o corpo em cinzas.
Sem chamas ou brasas.
Quero a sabedoria da espera
Do silêncio e do fim.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

mas nem era

E porque me parecia amor eu comecei a crer que fosse.
Desejei que fosse.
Me convenci de que seria.
Mas não, não era amor.
Era uma gargalhada boba que reforçava uma piada sem graça.
Era um telefone que tocava e disparava os desejos.
Uma vontade louca de dividir um sanduiche de pão com qualquer coisa no meio da madrugada.
Num era amor.
Era uma adoração infinita do calor da pele do outro.
Do cheiro da pele do outro.
Era aquela velha correria pra sair depressa do trabalho e do mundo e ouvir as mesmas músicas juntos.
E contar as histórias de sempre já há muito decoradas, mas que pareciam curiosamente inéditas.
Era um sentir-se único e inabalável.
Não, não era amor.
Era uma pressa de fazer tudo certo na vida.
Uma pressa de executar todos os planos escondidos no travesseiro.
E acreditar que todas as más escolhas são perdoáveis.
Que todos os caminhos levam aquela idéia de felicidade merecida.
Era uma certeza de que até mesmo a presença calada bastaria para alegrar um dia triste.
Mas não era. Num era amor.
Era apenas um bem estar comigo mesma.
Uma saudade dum pedaço meu que se perdeu pela estrada.
E que sem ele, ainda me sinto quase nada.