Ela tem os passos curtos como duma criança e a respiração ofegante dum sedentário.
Seu coração parece ter pressa e seus pensamentos têm medo.
Vive a rotina dos dias e se mistura aos demais como se não guardasse um grande segredo.
Como se as olheiras que ostenta fossem fruto apenas do cansaço dos dias.
Como se as olheiras que ostenta fossem fruto apenas do cansaço dos dias.
Do cansaço nobre da correria por horários e da busca daquelas metas coloridas das propagandas de TV.
Exibe um sorriso triste em resposta aos cumprimentos que recebe pelo caminho.
Procura ser doce.
Não pretende ser o foco do mundo e nem quer deixar que sejam vistas suas chagas.
Não deseja estampar na face do outro uma dor que é só sua.
Permanece só, correndo dum lado pra outro, com sacolas e papéis.
Vai cumprindo o estereótipo do cidadão acima de qualquer suspeita.
Que corre, trabalha e deseja como todos.
Vai cumprindo o estereótipo do cidadão acima de qualquer suspeita.
Que corre, trabalha e deseja como todos.
Só que agora seus caminhos são mais tortuosos e não tem mais o tempo como seu cúmplice.
Ele não mais aplaca suas feridas e não gera apenas lembranças depois de passada a tempestade.
O tempo é agora combustível, não apazigua - incita.
Não refreia mais suas lágrimas.
Ele agora as desperta e as atiça, como o vento que faz da brasa o fogo.
Ele agora as desperta e as atiça, como o vento que faz da brasa o fogo.
E estando com o peito em chamas só consegue fugir de si mesma quando se esconde.
Se refugia no silêncio do dia com o aval do mundo para estar ausente.
E chora.
Já sabe sem erros o percurso que seguirá em seguida. Mas ainda teme.
Sabe que guardará consigo seus mistérios e não deixa rastros.
E passando se os dias, segue personificando seu ideal inquestionável, disfarçando a apatia, assumindo pseudo projetos de vida e sufocando seu pranto.
Anseia pelo dia que não precise mais lutar contra sua vontade mais íntima e que possa libertar sua alma, já cansada do longo cárcere.
Ainda segue, mas com a única esperança de logo partir.
"O tempo é agora combustível, não apazigua - incita"... Delicadíssimo texto! Ótimo!
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