Eu poderia dizer que
o mundo anda mais endurecido, que as pessoas andam mais egoístas, que as escolhas
estão mais difíceis.
Eu poderia culpar a
correria dos tempos, o estresse de todo mundo, o estúpido mercado que me obriga
a consumir até meu próprio corpo, a política, a polícia, o silêncio, a mãe, o
pai, o Freud.
Eu poderia apontar
um conjunto de fatos, um punhado de histórias, um combo de variáveis de
desencontro.
Mas nada disso
tiraria da boca esse gosto de remédio amargo, de chá forte feito pela tia bem
intencionada que te arranca a alma junto com toda podridão do corpo e bota fora
com o ácido que sobe estomago acima quando se engole.
Nada disso tiraria o
cheiro de empoeirado dos sonhos e planos abandonados debaixo do tapete porque não se
pensou que se precisaria de ilusões para viver.
Nada disso removeria
a fraqueza da carne que se esgueira por entre as alegrias dos outros com suas
vidas que correm perfeitamente bem e com seus problemas que desaparecem como que por encanto.
Eu gostaria apenas
da vista dos tempos das calmarias, dos dias de paz em que eu andava pelas ruas
e não me lembrava do mundo, quando meu silêncio era abrigo, minhas ideias
minhas companheiras e a solidão não era castigo.
SOLIDÃO! Fácil sentir, difícil descrever!
ResponderExcluirSó mesmo você pra fazer brotar n'alma da gente a possibilidade de tornarem leves os sentimentos tão fortes,neste mundo cuja realidade dura nos sufoca e nos prende a detalhes sem importância. Surpreende-me a habilidade na escolha de palavras e expressões que embelezam o seu texto.